Volkswagen Amarok V6 entrou em 2025 com atualizações, olhe só, depois de 14 anos. Será que agora ela sai da rabeira do mercado?

Por Eugenio Augusto Brito

Lançada em 2010, a Amarok tinha como proposta de carga bastante generosa, a maior do segmento naquele momento, mas com dirigibilidade de carro de passeio, como o sedã médio Jetta ou até mesmo como o Passat.

Só agora, em 2024, a Volkswagen finalmente decidiu trazer uma atualização mais extensa da picape, já que o filão de modelos comerciais é um dos mais aquecidos do mercado. 

E também porque com o avanço tecnológico das rivais, praticamente todas as picapes andam como carro de passeio, sendo que algumas têm alto nível de conectividade. 

Será que com as mudanças, o Amarok deixa de ser uma das lanterninhas em vendas do segmento, só batendo a Fiat Titano?

Relembrando as poucas mudanças

Eu já vou logo falar do que não mudou na Amarok 2025, começando pelo motorzão V6 turbodiesel, que é o mesmo da atual linha 2024, com conhecidos 258 cavalos de potência, além de 59,1 kgfm de torque.

Quando a Amarok foi lançada, lá em 2010,  tivemos a polêmica do 4-cilindros diesel biturbo ser chamado de ninho-de-rato, com a fiação toda exposta. 

Mas a Volkswagen trabalhou nisso, o mercado também evoluiu bastante, e agora a gente abre o capô da Amarok e encontra apenas a capa de motor, dando um ar mais refinada para a picape, porque ela sempre teve essa proposta de ser um pouco carro de passeio, para o pessoal do agro, só que da cidade, se sentir mais à vontade. 

Também já conhecido é o câmbio automático de 8 marchas, bem como a tração 4Motion, integral, com opção de reduzida 4×4.  

Inclusive, nem o suporte do capô mudou: nada de haste com válvula a gás, então a depender do ângulo e da altura do condutor, pode ser difícil de operar. Idem atrás, para a tampa do porta-malas, que também segue sem alívio de mola ou sistema pneumático.

Agora, uma coisa positiva que não mudou também é a capacidade de carga. Segundo a Volkswagen, são 1.104 kg, a maior da categoria. Isso leva a, mais ou menos, 1.280 litros considerando o sistema de medição SAE, mas sem a proteção de caçamba. 

Principais novidades

O grosso das mudanças visuais da Amarok 2025 está na dianteira . Se lá em 2010 ela se inspirava em carros de passeio, Passat e Jetta, agora como a coqueluche são os SUV e as próprias picapes, o modelo se inspira principalmente no crossover médio  Taos, mas também no compacto Nivus. 

Para seguir regras de proteção ao pedestre, a Amarok traz capô mais baixo e que se conecta de forma mais fluida com a grade frontal. Assim, fica visualmente mais “testuda”.

Aqui, a inspiração do Taos também está na na linha de farol, totalmente de LED, com formato bem afilado. Há também, novidade para a picape, uma barra de luz que mais visível à noite ou em ambientes escuros, também totalmente de LED, unindo os dois projetores, mas que na picape passa por sobre o emblema da Volkswagen, não pelo meio.

Da grade para baixo, a inspiração é o Nivus, deixando a picape mais bicuda, com para-choque bem mais pronunciado.

Inclusive o nicho das luzes de neblina, com formato de bumerangue, vem totalmente do Nivus.

Só que quando você encara a Amarok bem de frente, com todas essas mudanças de estilo, não tem como não lembrar da atual Saveiro.

Sendo que os atuais traços da Saveiro foram buscar parte de sua inspiração… na Amarok anterior. Neste caso, vale um mote bem popular no interior do Brasil: o mundo não gira, o mundo capota.

A bordo

Embarcar na Volkswagen Amarok 2025 é entrar no “túnel do tempo”. Isso porque boa parte dos equipamentos remete a um jeito de se fazer carros que era bastante válido lá em 2010, mas que se mostra datado e antiquado uma década e meia mais tarde.

A começar por segurar uma chave-canivete para abrir a picape ou mesmo girá-la no tambor ao lado da coluna de direção para dar partida. É como voltar a andar de Gol ou de Fox.

Isso também acontece ao se olhar para o volante multifuncional, que de novo só tem o emblema mais bidimensional da Volks, ou para os comandos na porta, com iluminação avermelhada e tudo.

É brutal, ainda, olhar para o painel de instrumentos e encontrar mostradores analógicos, também remontando a época de Fox e cia, incluindo a pequena tela de TFT colorido e cerca de 4 polegadas para computador de bordo e ajustes.

Ponto positivo para os bancos, que realmente são bem confortáveis, tendo sido até mesmo premiados por conta disso. Há ajustes elétricos para condutor e carona, além de apoio de joelho; atrás, a boa inclinação de encosto permite, também aos passageiros, encarar viagens mais longas sem sofrer, diferente do que ainda ocorre em algumas rivais. 

Na região do console central, os comandos de ar-condicionado Climatronic (de Golf 4,5) e mesmo o trambulador e comandos da tração 4Motion e do controle de descida (Hill Descent Control) são velhos conhecidos.

Há, inclusive, uma inversão de discurso curiosa. Se lá em 2010 a VW fazia questão de colocar a Amarok à frente de muitas rivais, afirmando que trazia recursos avançados e experiência única, agora o próprio CEO da marca, Ciro Possobom, diz que Amarok 2025 vai se mostrar um veículo atraente para o público “raiz” de picapes.

“Você pode andar, ir da cidade à fazendo, ao seu destino no campo, sem se preocupar com modos diferentes de direção, sem ter de acionar um comando para desempenhar uma função específica. A Volkswagen Amarok 2025 consegue até encarar inclinações de 50 graus, com você comandando tudo de forma simples, usando os pedais de acelerar e frear apenas”, afirmou o executivo.

Claro, a alfinetada aqui foi na Ford Ranger, bastante conectada e tecnológica, mas até mesmo em rivais mais tradicionais como Toyota Hilux e a nova Chevrolet S10. 

E, vamos combinar, ter mais assistência eletrônica ao condutor não é algo negativo. Isso permite que mesmo um público com menor experiência possa utilizar o veículo em sua plenitude, sem sofrer tanto.

Assistência passiva

Falando em assistências, vamos para as novidades que a Volkswagen trouxe para a cabine da Amarok 2025.

As principais estão, justamente, na região do console central.  A tela central foi modificada. Com 8 polegadas e usando o sistema Android como base, finalmente está conectada não só via Bluetooth com telefones, mas também com ambientes Android Auto e Apple Carplay — mas apenas por cabos. 

Além disso, há navegador off-line, com linguagem e mapas da TomTom, que funciona mesmo sem ter uma conexão de dados — mas que nem por isso teve uma experiência totalmente fluida nos testes, uma vez que pode estar sem a atualização mais recente de mapas (essa operação, aliás, precisa ser feita no concessionário).

Para o motorista, há uma única entrada USB do tipo padrão A, usada para conectar e carregar o seu celular, além do acesso às funções. Atrás do bauleto central, existem outras duas entradas USB do tipo C para os passageiros conectarem e carregarem seus aparelhos, sem qualquer acesso ao sistema multimídia.

Sistema que é eficiente e interessante, com boa visibilidade e velocidade de troca entre as poucas funções. Mas muitas das funções do computador de bordo são mais fáceis de serem acessadas justamente nesta tela central.

A outra grande novidade da linha 2025 da Volkswagen Amarok é o sistema Safe Tag, opcional para a versão base da picape, mas de série nas mais caras.

Parece um smartwatch, inclusive com três botões, que servem para circular entre diferentes funções e mutar o som, definir nível de brilho da telinha ou setar o limite de velocidade.

A partir disso, o Safe Tag funciona quase como um Adas (sistema semi-autônomo de assistências), só que de forma passiva, sem alterar nada de aceleração, frenagem ou mesmo de esterçamento do volante. 

São feitas medições bem precisas de distância (em tempo) dos veículos à frente, leitura de placas e de sinalização de solo e, se algo não ficar dentro do previsto, o motorista recebe avisos piscantes na tela, além de apitos.

É curioso ver como a VW colocou um conjunto muito bom, bastante preciso, de sensor e câmera (montados entre para-brisa e retrovisor), com boa programação, mas que só emite alertas em uma tela pequena demais e longe demais do condutor.

Por que não posicionar a tela acima do volante, como se fosse um HUD, já que é pequena e não atrapalharia a visão da pista? Ou, então, por que não colocar as informações na tela central maior? 

Em movimento

Após um teste de cerca de 60 km, com parte rodoviária e parte entre canaviais na região entre Olímpia e Barretos, no interior do Estado de São Paulo, ficou bem claro que nada se altera para a linha 2024. O que não é ruim, pelo contrário. 

A Amarok é um veículo muito eficiente em movimento e, até mesmo, muito confortável, no asfalto e na lama, até mesmo ao encarar dificuldades.

Com poucos modos de condução, só Off-road (que faz um bloqueio do diferencial traseiro) e auxílio de descida, a Volkswagen Amarok 2025 se vale muito do seu torque gigante, de quase 60 kgfm, bem como da potência elevada, 258 cv, que podem ser amplificados a 272 cv, por cerca de 5 segundos, graças ao boost eletrônico, que percebe quando o condutor pisa mais fundo no acelerador em determinadas situações, e libera a potência extra por tempo limitado.

Esse poderia, que faz dela a picape a diesel mais forte e elástica do mercado, aliás, segue como principal argumento.

Quanto à novidade eletrônica, tudo funcionou bem demais, incluindo os alertas de distância do carro à frente (considerando o tempo ideal na casa de 1,5 segundo a 2 s, dependendo da velocidade) e de manutenção de faixas. Só que desligar o alarme sonoro ou mesmo identificar visualmente o que o “reloginho” está mostrando, sobretudo sob sol forte, se mostrou algo complicado e até perigoso, quando na estrada.

Houve até um imprevisto, mas que foi resolvido com um auxílio eletrônico que já existe: tive o pneu traseiro direito furado dentro do canavial, mas não parei até encontrar um lugar realmente seguro para fazer a troca.

Pude ir monitorando tudo, veja só, na telinha de TFT, atrás do volante, que me deu o alarme, bem como indicou por gráfico todo o histórico da queda de pressão até indicar que o pneu estava, de fato, furado. 

Nada disso, porém, é algo que diferencia  a Amarok das rivais, algo que motiva o consumidor a comprar uma. 

Até porque a faixa de preços não mudou, é a mesma da linha 2024 da Amarok, só que agora acompanhada por uma garantia de 5 anos. 

A rede Volkswagen, aliás, vende o modelo atual com desconto de até R$ 60.000, algo que talvez indique qual deveria ser a faixa de preços mais correta para a Amarok. 

Com isso detalhado, a Volkswagen Amarok 2025 tem o bastante para fazer as vendas voltarem no tempo cinco ou sete anos, de volta ao Top 5? Provavelmente não. Fato é que a Volkswagen vai abusar de algo bem atual: marketing pesado, com anúncios e participações em rodeios, festivais de música e redes sociais, serão a base da campanha deste novo modelo. O tempo logo vai dizer se isso vai funcionar.