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Ao volante: A dupla cidadania do Honda Accord

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Sedã carrega consigo todas as características que fizeram a fama dos carros japoneses, mas adaptadas ao gosto norte-americano; preços de R$ 119,9 mil é puxado demais

Honda_accord_32Nilo Soares
Especial para o Autos Segredos

 

O Accord é como um imigrante japonês que chegou ainda criança aos Estados Unidos. Não nega todos os costumes nipônicos, como a organização e o capricho, mas também carrega consigo os elementos da cultura norte-americana: é grande, descomplicado e preza pelo conforto. Isso porque, apesar de carregar em sua grade frontal o emblema de uma marca oriental, ele foi desenvolvido de olho no mercado ocidental, mais especificamente no da terra do tio Sam. Por lá, ele figura há anos entre os 10 automóveis mais vendidos, tem um público mais que fiel e é peça chave na estratégia comercial da Honda. Por aqui, ele tem missão mais modesta: serve, em parte, como um carro de imagem e, embora também atenda a consumidores fiéis, que desejam um produto mais luxuoso que o Civic sem trocar de fabricante, disputa a preferência de poucos compradores, que dispõem de mais de R$ 100 mil para comprar um carro. Como será que o fruto dessa mistura de etnias se comporta no Brasil?

Honda_accord_20Na parte mecânica, o Accord logo revela sua influência norte americana. Ao invés de um motor de baixa cilindrada equipado com turbo, seguindo a filosofia já consolidada no Japão e também na Europa, o sedã segue a linha norte-americana, que só agora começa a aderir ao downsizing, e é impulsionado por um propulsor  tradicional, com aspiração natural, e capacidade cúbica elevada: são 2.4 litros (para ser exato, são 2.356 cm³ de cilindrada, bem no meio do caminho entre um 2.3 e um 2.4), que rendem bons  175 cv a 6.200 rpm e 22,9 kgfm de torque a 4.000 rpm, sempre com gasolina, pois não há sistema flex. O propulsor tem quatro cilindros e 16 válvulas, com duplo comando variável e acionamento por corrente, ao invés da temida correia dentada. Bloco e cabeçote são de alumínio. Trata-se, portanto, de um conjunto tradicional, mas não antiquado. Ao contrário, câmbio, automático de cinco marchas, é que  mostra certa defasagem frente a concorrentes que apresentam mais velocidades ou sistemas mais evoluídos, como o automatizado de dupla embreagem.

Honda_accord_8Ainda que não lancem mão de tecnologias de ponta, motor e câmbio se entendem muito bem e empurram o sedanzão com desenvoltura. A entrega de potência e torque é linear e há boas respostas em todas as faixas de rotação. O Accord arranca, acelera e retoma velocidade a contento. Além do mais, a tradição japonesa de construir propulsores giradores foi mantida, pois o 2.4 mantém o rendimento e a suavidade mesmo em regimes elevados. Está longe de ser um foguete, em função do elevado peso de 1.506 kg (para quem quer mais performance, há a versão equipada com motor V6 3.5  de280 cv e 34,6 kgfm), mas não fará o motorista passar aperto em ultrapassagens.  Eventualmente, a caixa se ressente um pouco da ausência de mais marchas fica oscilando entre terceira e quarta ou entre quarta e quinta. Mas isso só acontece em uma ou outra situação. De modo geral, a transmissão é esperta, “entende” bem as vontades do motorista e apresenta bom escalonamento. As marchas são longas, mas sem buracos. A 120 km/h, em quinta, o tacômetro registra apenas 2.250 rpm, garantindo o silêncio a bordo. Grave mesmo é a impossibilidade de operar o sistema por conta própria, pois não há opção de trocas sequenciais. Isso, aliás, é outra evidência da personalidade norte-americana desse Honda: ele é sempre mais voltado para o conforto, e não para a esportividade. A suspensão segue a mesma filosofia, com calibragem mais macia, que proporciona um rodar suave. Contudo, como as quatro rodas são independentes, com conjuntos do tipo McPherson na frente e multilink atrás, o modelo é estável nas curvas e encara trechos sinuosos com segurança e obediência. Só não espere a desenvoltura de um esportivo, pois isso ele não é capaz de entregar. A direção com assistência elétrica mostrou excelência, deixando o volante muito leve em manobras e suficientemente firme em alta velocidade.

GRANDALHÃO SIM, BEBERRÃO NÃO O consumo foi bom para um sedã de grande porte, indicando que, nesse aspecto, o Accord honrou mais as tradições japonesas que as norte-americanas. O modelo cravou em média 8,0 km/l na cidade e 11,2 km/l na estrada. As marcas foram obtidas sempre com o modo Econ acionado, que altera a programação do câmbio, que passa a fazer trocas em rotações mais baixas, e reduz levemente a alimentação de combustível ao motor, tornando as respostas um pouco mais lentas. Não custa lembrar que o gasto de combustível de um veículo é influenciado por uma série de fatores, como as características das vias, o relevo, as condições do trânsito e o estilo de condução do motorista.

Honda_accord_3No habitáculo, o Accord deixa bem claro que é um japonês criado nos Estados Unidos. Os bancos são grandes e acomodam o corpo muito bem, enquanto os comandos são intuitivos e descomplicados, bem ao gosto dos americanos. Por outro lado, a sobriedade das linhas e o capricho na montagem são tipicamente nipônicos. O resultado é um ambiente agradável, prático e confortável. A posição de dirigir é ergonômica, mais relaxada, e o painel, completo e de fácil leitura, traz instrumentos analógicos: os tradicionais ponteiros estão presentes no conta-giros, no velocímetro, no marcador do nível de combustível e no termômetro do fluido de arrefecimento. Digitais, só os hodômetros e o econômetro, que atua em conjunto com dois filetes luminosos, com coloração que varia de verde para branco à medida que o acelerador é acionado e estimula o condutor a dirigir gastando pouco. Por fim, duas telas de LCD, sendo uma delas de oito polegadas e a outra sensível ao toque, fazem a interface com o sistema multimídia e o computador de bordo. A visibilidade para todos os lados é boa. Mesmo para trás, o campo de visão é bom para um carro com porta-malas saliente. Os limpadores de para-brisa são bastante silenciosos. Já os faróis, embora tenham apresentado bom resultado em termos de iluminação, poderiam utilizar gás xênon e ter fachos direcionais.

No acabamento, o sedã tem arremates caprichados e bons materiais, como superfícies emborrachadas no painel e fartas porções de couro nas portas, mas plásticos comuns também estão presentes em vários locais, como no console, para lembrar que o modelo da Honda é sofisticado, mas não é premium. A cor predominante é a preta, que causa certa sensação de monotonia, mas tem a vantagem de esconder melhor a sujeira. O espaço interno é muito bom. Mesmo com os bancos dianteiros bastante recuados, os passageiros de trás desfrutam de vãos generosos para as pernas e mesmo pessoas mais altas não rasparão a cabeça no teto. Até mesmo cinco adultos podem se sentar com relativo conforto dentro do Accord. Nessa situação, não há folgas, mas tampouco há aperto excessivo. Já o porta-malas poderia ser maior. Não que a capacidade de 461 litros seja exatamente ruim, mas poderia ser maior ao se considerar as dimensões externas do veículo. Vale lembrar que alguns sedãs compactos têm bagageiros com mais de 500 litros de capacidade. Ademais, a tampa tem dobradiças comuns, que roubam espaço, e não as do tipo pantográfico, mais eficiente. Por outro lado, o vão de entrada do compartimento é amplo, o que facilita as operações de carga e descarga.

Honda_accord_12NEM TÃO EQUIPADO ASSIM O Accord é o top de linha da Honda no Brasil e traz pacote de equipamentos coerente, mas não admirável. O modelo oferece ar-condicionado digital com ajustes individuais de temperatura, central multimídia com CD-player, entradas USB e auxiliar, conexão bluetooth e câmera de ré, alarme, revestimento interno em couro, banco do motorista com todas as regulagens elétricas, volante multifuncional ajustável em altura e profundidade, cruise-control e rodas em liga-leve aro 16. Há pelo menos dois itens a mais que deveriam ser de série: teto solar elétrico e botão de partida sem chave. Também não há saídas de ar-condicionado para o banco de trás (elas são restritas à versão V6, algo que não faz sentido em vista do já elevado preço da configuração de quatro cilindros).

Nos itens de segurança, o sedã se sai bem melhor. A lista de itens destinados à proteção dos ocupantes inclui airbags frontais de duplo estágio, laterais de do tipo cortina, cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça para todos. Também há bons equipamentos de segurança ativa, como controles eletrônicos de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas e freios a disco nas quatro rodas, com ABS, EBD e assistência de força. Aliás, o Accord apresentou ótimos resultados em frenagens: apesar do peso elevado da carroceria: o sedã sempre foi imobilizado em espaços curtos e sem desvios de trajetória. Em descidas de serra, não foi observado fading.

MAIOR DEFEITO É O PREÇO Como a avaliação do Autos Segredos mostrou, não há muito o que reclamar do Honda Accord como produto. Pelo contrário, ele é um bom sedã e seria uma ótima opção para quem prioriza, acima de tudo, o conforto na hora de comprar um carro. Seria… O problema é que, apesar de não ir além dos concorrentes diretos em mecânica ou em equipamento, o modelo é consideravelmente mais caro, com preço sugerido de R$ 119,9 mil. Para um breve efeito de comparação, um Nissan Altima 2.5 (com 182 cv de potência) custa R$ 99,9 mil e um Fusion 2.5 (175/167 cv, com etanol e gasolina respectivamente) custa a partir de R$ 96,9 mil, chegando a R$ 100 com teto solar. O valor cobrado pela Honda é mais elevado até que o da versão top do Fusion, a EcoBost AWD, que é tabelada em R$ 118,9 mil e que inclui tração integral e motor turbo de 240 cv. Diante de um preço tão fora do contexto do segmento, não há como chegar a outra conclusão: por melhor que seja, o Accord não é nem de longe a melhor opção.

NOTAS Nilo Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 8 8
Consumo (cidade e estrada) 7 6
Estabilidade 8 7
Freios 9 8
Posição de dirigir/ergonomia 9 9
Espaço interno 10 10
Porta-malas(espaço, acessibilidade e versatilidade) 9 8
Acabamento 9 8
Itens de segurança(de série e opcionais) 9 8
Itens de conveniência(de série e opcionais) 7 7
Conjunto mecânico(acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 8 7
Relação custo/benefício 4 5

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina, 2.356 cm³ de cilindrada, 175 cv de potência máxima a 6.200 rpm, 22,9 de torque máximo a 4.000 rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático de cinco marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h
Não informada pelo fabricante

VELOCIDADE MÁXIMA
Não informada pelo fabricante

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, independente, multilink

RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 16 polegadas, pneus 215/60 R16

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,890; largura, 1,85; altura, 1,475; distância entre-eixos, 2,775

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 65 litros; porta malas: 461 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 454 quilos; peso: 1.506 quilos

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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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