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Ao volante: Plástica faz bem, mas não esconde as rugas do Chevrolet Agile

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Hatch tem qualidades, como o espaço interno amplo e a presença de mimos para os ocupantes, porém contrução sobre plataforma antiga cobra seu preço no comportamento dinâmico e na ergonomia

 chevroletagile201425Nilo Soares
Especial para o Autos Segredos

Face-lifts são uma artimanha curiosa: na maioria das vezes, eles são extremamente superficiais e alteram apenas alguns detalhes estéticos. Muda um para-choque aqui, uma posição de placa ali, e pronto, o consumidor já sente que houve um up-grade, ainda que, em termos técnicos, o produto seja rigorosamente o mesmo. Seguindo essa filosofia, o Agile 2014 passou por uma plástica discreta, que marca a metade de seu ciclo mercadológico. Sempre criticado pelo estilo carregado (apesar de isso nunca ter impedido que ele alcançasse bons números de vendas, ao menos até a chegada do irmão Onix), as alterações suavizaram a dianteira do hatch, com adoção de uma tomada de ar menor e de faróis mais alongados, enquanto os para-choques ganharam uma faixa horizontal sem pintura, provavelmente para criar a sensação de que o carro ficou mais largo. Todos os traços identitários do modelo, como a grade bipartida e os vincos pronunciados, contudo, foram mantidos.

chevroletagile201418Se em estética o compacto mudou pouco, em termos mecânicos as alterações foram ainda menores. Na verdade, tudo continua exatamente como estava. No Agile, o motor, o conhecido 1.4 da chamada Família I, que estreou no Brasil na década de 1990, não tem os aperfeiçoamentos que foram adotados em outros veículos da marca, como bobinas individuais em cada cilindro, que resultaram no sobrenome SPE/4. Assim, o hatch entrega potência e torque ligeiramente menores que os irmãos: são 97/102 cv de potência a 6.000 rpm e 13,2/13,5 kgfm de torque a 3.200 rpm, com gasolina e etanol, na ordem. Apesar da arquitetura bastante simples, com bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio, duas válvulas por cilindro e acionamento por correia dentada, é verdade que o propulsor entrega bons números para sua cilindrada. A plataforma, por sua vez, é a GM 4.200, compartilhada com Celta e Corsa Classic, porém com algumas alterações, como ampliação da distância entre-eixos. A suspensão é composta pela tradicionalíssima combinação de sistemas do tipo McPherson na dianteira e de eixo de torção na traseira, mas com fixação direta no monobloco, sem o intermédio de subchassis. O câmbio é o manual de cinco marchas F-15, que segundo a Chevrolet, teve as relações de marchas revistas, mas que permanece menos avançado que o F-17, presente nos veículos desenvolvidos sobre a mais moderna plataforma GSV. Por fim, a direção tem assistência hidráulica.

NAS CURVAS DA ESTRADA A condução do Agile reflete diretamente suas características técnicas mais defasadas que a de outros modelos da linha Chevrolet. O motor que rende bons números, aliado ao baixo contido de 1.075 kg, faz com que o hatch seja ágil no trânsito urbano. Na estrada, o desempenho é mais limitado, mas ainda assim satisfatório. Além do mais, o propulsor gira suave, mesmo em alta rotação. Porém, no mais, o comportamento não demonstra brilho algum. A suspensão tem calibragem mais durinha, para conter o balanço da carroceria de teto elevado nas curvas. Ainda assim, o modelo não é capaz de se destacar em estabilidade, apresentando comportamento apenas regular no quesito. Quando há abuso, ele não tarda a inclinar demais e a subesterçar. Ademais, o acerto mais rígido de molas e amortecedores cobra seu preço em pisos irregulares, transmitindo fielmente as imperfeições para o habitáculo. Assim como ocorre em outros veículos desenvolvidos sobre a plataforma GM 4.200, O Agile ressente-se da ausência de um subchassi dianteiro para proporcionar mais prazer em trechos sinuosos e mais conforto em desníveis.

chevroletagile201433O câmbio tem engates macios, porém longos e um tanto imprecisos. Outro incômodo é o pomo da alavanca de marchas, cujo gatilho para o engate da ré está posicionado em local inadequado: durante as trocas, os dedos constantemente esbarram na peça. O anel-trava utilizado em outros modelos da Chevrolet proporciona ergonomia bem melhor. O escalonamento é correto, sem buracos entre as marchas, e a 120 km/h, em quinta, o 1.4 gira a 3.500 rpm, valor contido para a cilindrada. Contudo, se o ronco do propulsor não incomoda, o mesmo não ocorre com os ruídos aerodinâmicos, que são bastante perceptíveis já a 100 km/h. Essa característica é fruto do elevado cx do Agile, de 0.37. Por fim, a direção é macia em manobras, mas apresenta pouca progressividade e torna-se leve demais em alta velocidade.

O consumo do Agile foi satisfatório, mas não impressionou. Sempre abastecido com gasolina, o hatch fez boas médias em percursos urbanos, na casa dos 10,4 km/l. Porém, na estrada, era de esperar um pouco mais  que os 12,8 km/l registrados após várias aferições. Como é de praxe nas avaliações do Autos Segredos, as marcas foram obtidas com ar-condicionado ligado durante parte dos percursos. Vale lembrar que vários fatores influenciam no gasto de combustível, como o relevo, as características das vias, as condições do trânsito e o estilo de condução do motorista.

MARCAS DO PASSADO A arquitetura interna revela vários pontos em comum com os irmãos de plataforma. A posição do freio de mão e do aparelho de som, por exemplo, é idêntica à de Celta e Classic. No geral, contudo, o acesso aos comandos é fácil e ergonômico. O quadro de instrumentos tem disposição pouco comum e causa estranhamento à primeira vista: o velocímetro e o conta-giros, por exemplo, movem-se em direções contrárias. Porém, após algum tempo de convivência, essa característica é assimilada pelo condutor. Quase todos os mostradores são analógicos e proporcionam boa leitura; o único indicador digital é do da temperatura do motor, item muito útil que, por questão de custo, tem sido abolido por vários fabricantes. A visibilidade é boa para frente e para as laterais. Para trás, as largas colunas C atrapalham um pouco, mas o resultado ainda é satisfatório.  O limpador de para-brisa utiliza palhetas do tipo flat-blade e apresentou bom resultado, varrendo área satisfatória sem ruídos excessivos. A linha 2014 trouxe faróis de dupla parábola, único aprimoramento prático resultante da reestilização frontal. O conjunto óptico, que conta ainda com o auxílio de luzes de neblina na frente e atrás, apresenta resultados muito bons de iluminação e demonstra evolução.

chevroletagile201429O posto de comando também denuncia o parentesco dos modelos: os pedais são deslocados para a direita, enquanto a perna esquerda permanece bastante flexionada, devido à proximidade com a caixa de roda. A direção deslocada para a direita também está presente, assim como em seus irmãos de plataforma. O motorista senta-se em uma poltrona elevada, como é comum ocorrer nos hatches mais altinhos. Os bancos, aliás, proporcionam boa acomodação para as coxas e para a coluna, mas têm espuma muito macia e pouco apoio lateral. O do motorista tem regulagem de altura, mas o acionamento poderia ser melhor, pois acaba deslocando o componente também no sentido longitudinal. O volante, de base achatada, é outra novidade da linha 2014. A empunhadura é boa, mas a Chevrolet poderia ter incluído também um sistema de ajuste em profundidade, pois só é possível regulá-lo em altura.

INTERIOR AMPLO Em relação aos outros veículos que utilizam a plataforma GM 4.200, o Agile teve a distância entre-eixos alongada, para aumentar o espaço para quem viaja atrás. Essa característica, aliada à capota alta, de fato deixou o habitáculo amplo em relação às dimensões externas do modelo. Quatro adultos, mesmo mais altos, sentam-se sem aperto. Para cinco, a situação muda, pois o túnel do câmbio é elevado, e ademais, a carroceria é estreita. O porta-malas é campeão entre os carros compactos, com 327 litros, que podem ser ampliados com o rebatimento dos bancos, divididos em 1/3 e 2/3. Além, do mais, o compartimento é todo revestido e só perde alguns pontos por causa da base da tampa muito elevada, que prejudica as operações de carga e descarga. O acabamento do habitáculo está na média da categoria, com plásticos rígidos de diferentes texturas. Os arremates deixam a desejar, pois é possível encontrar imperfeições em alguns encaixes. Por outro lado, o revestimento dos bancos agrada bastante, com tecido aveludado muito macio ao toque.

Para tentar diferenciá-lo do Onix, o Agile ganhou alguns mimos exclusivos. O volante multifuncional é completo, incorporando cruise-control e comandos de áudio, que fazem falta ao Onix. Os vidros elétricos nas quatro portas, além da função um-toque, têm sistema de alívio de pressão, que abre alguns centímetros da janela na hora de fechar as portas, para facilitar tal operação. O hatch vem ainda com computador de bordo e acendimento automático dos faróis, mas não espere pelo sistema multimídia My- Link, ou por sensores de estacionamento traseiros, que não estão disponíveis sequer como opcionais. O entretenimento fica por conta apenas de um aparelho de som, que apesar de dispor de CD/MP3 player, Bluetooth  e entradas USB e Auxiliar, não é do tipo double-din. A lista de equipamentos de série é complementada por travas e retrovisores elétricos, alarme, ar-condicionado manual, direção com assistência hidráulica e rodas de liga leve aro 16” (um tanto exageradas para um modelo de comportamento de comportamento tão pacato).

chevroletagile20149Se a lista de itens de conforto é até ampla, a de equipamentos de segurança traz apenas o básico. Dignos de nota são apenas o airbag duplo e os freios ABS com EBD. Atrás, o passageiro central não conta com cinto de três pontos e encosto de cabeça. Como não há opcionais, é impossível pedir por mais airbags, auxílios eletrônicos à condução ou ganchos Isofix para a fixação de cadeirinhas. Os freios demonstraram bom dimensionamento: imobilizaram o hatch com eficiência e sem desvios de trajetória.

TESTEMUNHA DA CRISE Quando foi lançado, o Agile foi estandarte da renovação da linha Chevrolet na América do Sul. O hatch estreou a nova identidade da marca no Brasil, que posteriormente chegou a vários outros produtos. Hoje, o compacto que chegou para abrir caminho rumo ao futuro acaba sendo um testemunho ambulante do passado, principalmente dos momentos da crise que se iniciou em 2008 e abalou profundamente as estruturas do fabricante. Lançado em 2009, o Agile foi desenvolvido justamente nesse período, em que a filial brasileira não recebia investimentos para fazer renovações profundas. Sanadas as dificuldades financeiras, as semelhanças do Agile com os modelos mais recentes resumem-se apenas a alguns elementos de estilo. Todos os irmãos mais novos têm construção bem mais moderna, graças à adoção de novas plataformas e aprimoramentos mecânicos. As armas do compacto são o amplo espaço interno, e os mimos ao motorista. Pelo preço de R$ 42.990 sugerido para a versão LTZ, idêntica à avaliada, o consumidor que entra em uma concessionária da Chevrolet fará melhor negócio se vier a adquirir um Onix, que apesar de ser menos espaçoso, está longe de ser apertado e ainda oferece o sistema My Link. Ao optar pelo hatch mais recente, o consumidor ainda desfrutará de um benefício que não consta em listas de equipamentos: o comportamento dinâmico muitíssimo mais interessante.

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AVALIAÇÃO Nilo Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 7 6
Consumo (cidade e estrada) 7 7
Estabilidade 6 6
Freios 7 6
Posição de dirigir/ergonomia 5 6
Espaço interno 8 8
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) 8 9
Acabamento 7 7
Itens de segurança (de série e opcionais) 6 6
Itens de conveniência (de série e opcionais) 7 7
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 6 6
Relação custo/benefício 6 7

FICHA TÉCNICA

MOTOR

Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 8 válvulas, gasolina/etanol, 1.389cm³ cm³ de cilindrada, 97cv (g)/102cv (e) de potência máxima a 6.000, 12,9 kgfm (g)/ 13,9 mkgf (e) de torque máximo a 4.800 rpm

TRANSMISSÃO

Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)

10,6 segundos com gasolina e 10,0 segundos com etanol

VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)

180 km/h, com ambos os combustíveis

DIREÇÃO

Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica

FREIOS

Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS

SUSPENSÃO

Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção

RODAS E PNEUS

Rodas em liga de alumínio, 6J x 16 polegadas, pneus 195/50 R16

DIMENSÕES (metros)

Comprimento, 3,996; largura, 1,683; altura, 1,474; distância entre-eixos, 2,543

CAPACIDADES

Tanque de combustível: 54 litros; porta malas: 327 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 425 quilos; peso: 1.075 quilos


Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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